PIÚTA, O LENDÁRIO REZADOR DO PAVÃO, DEIXOU UMA HISTÓRIA DE VIDA EM SÃO JOSÉ DO CALÇADO


Piúta era titular de uma devoção grande pelos seus santos.

Conforme familiares, o Centenário, que estava vivendo na casa de um de seus filhos, passou mal, foi encaminhado ao Hospital Estadual São José do Calçado. Que, lá, os médicos descobriram um câncer já em estágio avançado. O corpo do Centenário começou a ser velado à 1h da madrugada, na Capela Mortuária do Distrito de Alto Calçado (São Benedito), no Norte do município de São José do Calçado. Foi sepultado às 17h, na mesma localidade.

O velório, marcado por uma multidão, teve a presença de muitas crianças. Elas levaram o último adeus ao rezador que amava os bichos, as crianças e rezava pelas pessoas. Que por muitos anos distribuiu balas no Dia das Crianças, São Cosme e Damião e outros eventos. As crianças tinham um grande carinho por ele.

Com uma fé inflexível e titular de uma devoção grande pelos seus santos, o mais velho e requisitado rezador da região, que morava na zona Rural do Pavão, próximo a Alto Calçado, deixa 7 filhos. Já entre netos, bisnetos, trinetos, e tataraneto, já passam dos cem.

➤LENDÁRIO DO PAVÃO 

O homem, que em vida, por onde passava, era parado por várias crianças, jovens e adultos, que pediam orações, nasceu em um sábado de 19 de julho de 1919, na Serra do Alípio, entre as matas e bichos, na Rodovia Estadual Lourival Couzi, Rodovia que liga os municípios de São José do Calçado e Guaçuí. Aos 15 anos, mudou-se para a zona rural do Pavão, próximo ao Distrito de Alto Calçado, pertencente ao município de São José do Calçado. Casou-se em Airituba, aos 18 anos, em 1937. Morou muitos anos no sitio do Joviano Carvalho Lima (*12 de junho de 1921, domingo, Alto Calçado/ES - +07 de dezembro de 2008, domingo, Vitória/ES), a qual mais tarde passou a ser proprietário.

Ao lado de sua esposa Carmelita Rosa de Jesus, teve 7 filhos: Tereza, Ana, Maria das Graças, Maria Amélia, Ademir, Adrelino Albino e José Otávio. Carmelita, nascida em 15 de abril de 1916, em um sábado, no Assentamento Santa Rita/ES, morreu em 13 de junho de 1994, em uma segunda-feira, aos 78 anos, em sua residência, no Pavão. Conforme Andrea Balbino de Siqueira, de 44 anos, neta de Carmelita, a idosa foi vitima de problemas ocasionados por um Acidente Vascular Cerebral. Que após sua morte, Osvaldo nunca mais teve uma segunda esposa.

- Desde pequeno meu avô gostava de trabalhar na lavoura. Amava contar histórias aos amigos que frequentavam sua casa. E também de rezar por eles. Sábio, de muita fé e temente a Deus, a vida toda ajudou as pessoas. Não media esforços para socorrer o próximo através da oração ou outro tipo de ajuda. Vindo de uma familia espírita, foi curandeiro, rezador e raizeiro. Os pais de meu avô, no começo, não aceitaram a orientação religiosa dele. Com um tempo, aceitaram -, disse Andrea. 

Andréa, que nasceu em 19 de julho, dia e mês do nascimento do seu avô Piuta, relembra que a vida dele foi toda na Vila do Pavão, no sitio que pertenceu ao saudoso Joviano. Que considerava a roça, um paraíso. 

- Avô Piuta vivia cercado por bichos. Já teve galinhas, gatos, porcos, perus, galinholas e sabiá. Teve um cavalo de estimação chamado Criolo. Passou por dias tristes, como na segunda-feira de 4 de dezembro de 1970, quando na Vila do Pavão, uma forte chuva levou a vida de muitos pássaros, vacas, bois, cavalos, burros, galinhas e 11 pessoas. “Vozinho” encontrou o corpo da última vitima fatal, um bebezinho, 8 dias depois, que estava abaixo de uma galhada, no sitio do José Pereira Tatagiba (+09 de abril de 1930, quarta-feira - +12 de outubro de 2003, domingo), vulgo, José Barriga. O urubu estava bicando o corpo -, lembrou a neta, reforçando, que mesmo após a tragédia o finado nunca se mudou do Pavão. 

➤VOCÊ CONHECE HOSPITAL? 

Em uma época, pelos meados dos anos 40, principalmente para a maioria que morava na roça, certamente desconhecia hospital. E os que existiam, no interior, possuíam precários recursos. Os partos eram realizados nos lares. Nas bandas do Pavão, havia uma parteira de mão cheia, que era muito requisitada nos trabalhos de parto: Dona Carmelita, esposa de Osvaldo. 

Andrea, que recentemente se mudou para o município de Piúma, localizado no litoral Sul do Espírito Santo, que tem em seu balneário 8 km de praias, cercada pelas ilhas do Gambá, do Meio, dos Cabritos e dos Franceses, retrata que sua avó Carmelita realizava muitos trabalhos de partos. Que na época, seus avós diziam que quase ninguém sabia que existia hospital. 

- Minha avó era muito requisitada para os trabalhos de partos. As pessoas vinham de longe para ela fazer os partos. Meu avô, no entanto, era muito requisitado para os trabalhos de rezas e garrafadas. Chegava gente dos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, principalmente, de Governador Valadares. Muitas autoridades e até médicos de Calçado já o procuraram para fazer algum tipo de garrafada -, contou. 

A neta do lendário rezador finaliza que mesmo idoso e viúvo, seu avô era muito determinado. Fazia seu próprio almoço e jantar. Limpava a casa, cuidava da lavoura e não aceitava que ninguém fizesse as tarefas. 

- Ele passou seus últimos dias na casa de meu tio Adrelino, vulgo “Dé”, que mora no Pavão. Por fim, sua maior paixão era o gato Pretinho, que dormia todas as noites em sua cama. Agora com a morte de meu avô, Pretinho está com meu tio Adrelino. O último desejo de meu avô foi que levasse minha mãe, Maria das Graças, até ele. Ela lhe deu a mão. E assim, meu vozinho fechou os olhos para nunca mais abrir -, finalizou.

Fonte: Blog Last Minute News

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