ELA VENCEU A DEPRESSÃO, UMA TENTATIVA DE SUICÍDIO E HOJE A VIDA É DOCE


“No mês onde se faz a campanha contra o suicídio, eu aconselho a todos que estão sem rumo, como estive durante muitos anos de minha vida, a procurar a ajuda de um profissional capacitado da saúde mental”. A dica, em forma de desabafo, é da empresária de Guaçuí, Andressa de Assis Vale, de 44 anos, que tem muito a ensinar e comemorar neste setembro amarelo, azul, rosa ou qualquer outra cor que a vida pintar.

Andressa é um daqueles exemplos de superação que a gente tem orgulho de contar. Viúva, mãe de um filho de 18 anos que ela define como “a maior graça que Deus presenteou em sua vida”, ela venceu a depressão e hoje faz sucesso vendendo biscoitos caseiros.

Antes de se realizar como biscoiteira, Andressa passou por outras profissões, mas não se sentia realizada. “Sempre tive empregos políticos, mas não conseguia dar conta deles, pois desconhecia de onde vinham as minhas fraquezas”, relembra.

Ela conta que 12 anos atrás começou a apresentar sinais de depressão, síndrome do pânico e ansiedade por diversos motivos. “Por mais que quisesse compreendê-los, era impossível. Minha vida em família sempre foi cheia de conflitos. Era um verdadeiro desafio pra mim, que sentia falta de algo mais e que nunca soube o que era”, explica.

Enquanto ia convivendo com seus medos e incertezas, Andressa começou a fazer cursos de doces e confeitaria. Em um primeiro momento, a ideia era se encontrar em algo produtivo que lhe proporcionasse satisfação profissional. A tentativa que começou há cerca de oito anos, no entanto não fermentou.  “Queria ver se me encontrava em algo para eu superar meus desafios. Mas, mesmo assim, me sentia inútil. Até comecei a fazer biscoitos e sequilhos de nata, mas parei logo com tudo”, conta Andressa ao recordar como estava depressiva e desanimada com tudo e com todos à sua volta. “Nada me erguia”, lembra.

A vida por um fio

Andressa sempre procurou ajuda especializada para se tratar. Porém, não se sentia amparada pelos profissionais os quais buscou tratamento. No início desse ano, ela chegou ao extremo da doença.

“Em janeiro de 2019 tentei suicídio após ter uma síndrome do pânico muito forte. Graças a Deus não morri, mas quebrei meu braço em duas partes e fiz duas cirurgias por conta disso. Acabei ficando ainda pior, pois dependia das pessoas para tudo”, conta emocionada.

Nesse período, Andressa contou com a ajuda da mãe Rosângela, já que não tinha condições financeiras para ter alguém cuidando dela. “Minha mãe foi meu socorro nesse momento difícil. E nesses momentos em que tinha que ficar acamada, pedi a misericórdia divina para me auxiliar a sair daquele estado depressivo”.

Após a retirada do gesso, Andressa decidiu voltar a fazer biscoitos na esperança de se reerguer. “Oferecia meus biscoitos e implorava às pessoas para comprarem. Estava sem direção e sem ânimo, mas tentando me recuperar”.

Religião e psicanálise

Nesse processo de tentar se reerguer, Andressa também se valeu da religiosidade para unir forças contra a depressão. Ela conta que foi a várias doutrinas na tentativa de melhorar, mas apesar de ter sido bem acolhida em todas, ela sempre abandonava a caminhada de fé. “Não conseguia continuar, pois estava descontrolada, mesmo com muitas pessoas de bem, a quem agradeço, tentando me ajudar”, comenta.


Já na área médica, mesmo desacreditada com alguns tratamentos, ela insistiu e mais uma vez procurou por ajuda. Ela buscou auxílio na psicanálise e foi onde se encontrou. Andressa contou com a ajuda profissional da psicanalista clínica Elis Mara Tuayar Sesse.

Elis explica que a psicanálise trabalha diretamente com o inconsciente onde ficam retidas memórias de infância, emoções que em algum momento da vida foram muito fortes e houve um bloqueio, mas num determinado tempo da vida vem a tona. “No meu trabalho percebo que muitas pessoas preferem ficar na sua zona de conforto ao invés de lutar e fazer mudanças necessárias. E com isso vem a ansiedade, a insônia, a depressão, síndrome do pânico, tristeza e outros sintomas, angústia, dores físicas, irritabilidade e por aí vai. Tudo isso está ligado ao emocional e é nisso que trabalhamos”, explica a psicanalista.

“Quando cheguei no consultório, em prantos, pela primeira vez eu fui acolhida com um abraço muito carinhoso de uma profissional. Comecei a fazer as sessões e fui vendo minhas melhoras a cada dia. Fui aprendendo a me valorizar e encontrar novamente meu verdadeiro dom que Deus me deu”, conta Andressa.

Durante o tratamento, além do emocional, Andressa foi direcionada também a reorganizar sua carreira profissional. “Fui me apoderando de uma garra que antes eu desconhecia e direcionada a procurar orientação para ser uma microempreendedora individual e organizar meu empreendimento. Hoje estou muito feliz com minha superação, trabalho todos os dias da semana para atender cada vez melhor meus clientes e sou muito grata a Deus”, comemora.

Biscoitos com sabor de superação

Os biscoitos amanteigados fabricados por Andressa têm conquistado cada vez mais o paladar dos clientes. Hoje, o carro chefe da produção é o biscoito ‘Solteiro’ e o ‘Casadão com goiabada’. Mas o negócio está crescendo e novos sabores estão sendo testados. Andressa faz tudo artesanalmente e conta com a ajuda de uma funcionária.

É preciso falar sobre suicídio

No mês em que se evidenciam os debates sobre a prevenção ao suicídio, o psiquiatra Thiago Moraes Tahan alerta para a importância do tema ser amplamente discutido tanto no meio profissional da saúde, quanto em outros grupos sociais.

“É preciso que haja a diminuição do estigma, tabu e preconceito sobre esse tema tão importante. É fundamental a conscientização dos próprios profissionais de saúde, principalmente em pronto socorro, que muitas vezes menosprezam, agem com preconceitos ou subvalorizam o paciente suicida, usando frases que em nada ajudam o paciente, como por exemplo: “não sabe nem se matar” ou “da próxima vez dá um tiro na cabeça” ou “só está chamando atenção”, alerta o psiquiatra.

Para o médico, o conhecimento pode contribuir para a desconstrução desse estigma em torno do comportamento suicida. Ele ainda chama a atenção para o fato de que existe uma ideia de que falar sobre suicídio estimula as pessoas a tentarem, o que na verdade ele diz ser totalmente errado. “Falar sobre suicídio diminui angústias, sofrimentos, desesperanças. E, consequentemente, diminui o desejo da tentativa. Portanto, deve-se falar a respeito. Sempre! O ano todo, não só em setembro”, ressalta.

“Além disso, devemos sempre estar atento ao próximo e ser atento com os sinais dados. Não julgar, não culpar, não criticar. Demonstrar empatia, amor, carinho. Nem que seja para simplesmente escutar”, lembra.

Fonte: Aqui Notícias

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